O sujeito apaixonado,
Confunde amor com paixão;
Arriado os quatro pneus,
Não enxerga a palma da mão;
É o sujeito me engana que eu gosto,
Vê se acorda cidadão.
Tem produto em promoção,
Pela metade do preço;
Às vezes está estragado,
Vencido o prazo, é grotesco;
É produto me engana que eu gosto,
Deixa a gente pelo avesso.
Devia trocar a peça usada,
E sempre mostrar ao dono;
Trocou a usada pela nova?
A dúvida gera abandono;
Na oficina me engana que eu gosto,
Enganar é igual, é sinônimo
O cabra influenciado,
É aquele sujeito vazio;
Qualquer ideia lhe leva,
No perigo, está por um fio;
É o sujeito me engana que eu gosto,
Sem personalidade, sem brio.
As aparências me enganam,
Não me importa a essência;
Vivo sempre hipnotizado,
Não enxergando a decência;
Aparência me engana que eu gosto,
Vivo ingênuo, na inocência.
Existe o mentiroso pronto,
Aquele profissional;
Faz da mentira verdade,
Gesticula, rebola, é boçal;
Ele me engana e eu gosto,
É o famoso «cara-de-pau».
Quanto maior o chapéu,
Menor o tamanho da fazenda;
Cachorro que late não morde,
Quem muito fala, inventa;
Quando o cabôclo me engana e eu gosto,
A verdade pede clemência.
Tem notícia pela metade,
Vejo lá na televisão;
Sei, tá faltando um pedaço,
Esconder de mim, é traição,
A notícia, me engana e eu gosto
Faço papel de bobão.
É imposto pelas tabelas,
Embutidos nas mercadorias;
A metade do meu salário,
Vai pro governo de fantasia;
Ele me engana e eu gosto,
Dessa velha covardia.
O hospital está pronto,
Mas falta remédio e doutor;
Tem propaganda no vídeo,
E mil doentes no corredor;
Eles me enganam e eu gosto,
A saúde está um horror.
O governo é um grande Cassino,
Tem jogos que é um colosso;
Mas, proibi o Jogo do Bicho,
Alegando alvorosso;
O governo me engana e eu gosto,
Come a carne e rói o osso.
Eu vendo meu voto bem caro,
Pensando em levar vantagem;
Enganar aquele político,
Que vive de malandragem;
Ele me engana e eu gosto,
É eu e ele sem qualidade.
Na emoção e na manha,
Político promete tudo;
São promessas de campanha,
No palanque vale tudo;
Ele me engana e eu gosto,
Depois some e eu fico duro.
Vivendo na ditadura,
Na disfarçada democracia;
Quem tá no poder faz festa,
Gastam tudo na orgia,
Sou o eleitor me engana que eu gosto,
Pago imposto que dá agonia.
País, sem oposição,
Não é mais democracia;
Todo o Congresso comprado,
Faz o papel de tapia;
É o país me engana que eu gosto
É ditadura noite e dia.
Tem professor faz de conta que ensina,
O aluno faz de conta que aprende;
A despesa da escola pública é alta,
É o dobro da particular, compreende?
O governo me engana e eu gosto,
Educação não sai do lugar, não ascende.
O comércio pelas tabelas,
A indústria na sangria;
Os bancos, bilhões de lucros,
Na mais clara anarquia;
A economia me engana e eu gosto,
Não ver nada disso, é miopia.
Placebo é remédio falso,
A embalagem é bonita que exorta;
Dentro não há nada que preste,
Só vender é o que importa;
Placebo é me engana que eu gosto,
Tem indústria safada que produz e exporta.
Diz que chegou no clímax,
Grita e treme de alegria;
É um reboliço tão grande,
Parece verdade a alquimia;
Ela, me engana e eu gosto,
Pra satisfazer a magia.
O auto-engano é uma onda,
Que tenho dentro de mim;
Quero ser o que não sou,
Não sou bala nem fes..m;
Eu sou besta, me engana que eu gosto,
Devia conhecer primeiro a mim
Leôncio Queiroz